Descoberto por pesquisador brasileiro, conheça besouro que 'se disfarça' de cupim

  • 21/12/2023
(Foto: Reprodução)
Austrospirachtha carrijoi usa mimetismo visual e químico para habitar o cupinzeiro e conseguir alimento. Cupim alimentando besouro (Thyreoxenus alakazam) através da trofalaxia estomodeal César Favacho Uma nova espécie de besouro que é capaz de "se passar por cupim" foi descoberta na Austrália. Trata-se do Austrospirachtha carrijoi, um parasita social que usa da sua capacidade de imitar física e quimicamente cupins, estratégia chamada de mimetismo, para se alimentar nos cupinzeiros. O animal foi descoberto pelo entomólogo Tiago Carrijo, em 2014, quando fazia uma expedição pelo país para participar de um congresso. Lá, ele aproveitou para coletar alguns cupins para o Museu de Zoologia da USP (MZUSP). Enquanto quebrava alguns cupinzeiros, troncos, revirava galhos caídos e cavava os solos (lugares onde os bichos normalmente são encontrados), Tiago se deparou com um ninho erodido, de cerca de 20 cm, onde encontrou duas “espécies diferentes” de cupim. “Apesar de eles conseguirem enganar os cupins, é importante lembrar que os cupins são cegos. Para nós, que enxergamos bem, não é muito difícil perceber a diferença entre o cupim e o besouro”, afirma Tiago Carrijo. O entomólogo diz que esses besouros possuem uma relação curiosa e bastante específica com os cupins, mas não são tão raros assim. Existem outras espécies no Brasil que apresentam o mesmo tipo de interação, sendo um deles é o Thyreoxenus alakazam. Nessa dinâmica, os cupins alimentam o besouro através da trofalaxia estomodeal (transferência "boca a boca"), com um líquido alimentar que contêm o alimento semidigerido e saliva. Mimetização dos cupins pelo besouro Bruno Zilberman, um dos autores do artigo publicado pela revista Zootaxa sobre os comportamentos atípicos do A. carrijoi, conta que o besouro carrega seu abdômen nas costas. Esse abdômen é grande, inflado, membranoso e recurvado por cima do resto do corpo, da forma que a região finaldele fica literalmente acima da cabeça verdadeira do inseto. “Visto de cima, você só observa o abdômen. O grande truque é que esse abdômen tem a forma de um cupim, com constrições em regiões específicas que criam uma 'pseudo-cabeça', um 'pseudo-tórax' e um 'pseudo-abdômen'. Além disso, existem expansões membranosas que são 'pseudo-antena's e 'pseudo-pernas'. Resumindo: o besouro carrega um fantoche de cupim nas costas”, conta Bruno. “Isso provavelmente ajuda o besouro a se homogeneizar entre os cupins e desviar a atenção de potenciais predadores. Embora os cupins sejam cegos, eles têm uma ótima sensação tátil”, acrescenta. "Fantoche de cupim nas costas” é parte da morfologia do besouro Bruno Zilberman Além da camuflagem morfológica, o inseto também usa uma camuflagem química. Os cupins possuem compostos químicos pelo corpo chamados de CHC, que funcionam como uma impressão digital da colônia. Dessa forma, eles conseguem detectar intrusos, inclusive outros cupins para expulsá-los do ninho. “Sabemos que esses besouros copiam esses compostos, mas ainda não está claro se são capazes de produzir, se roubam da colônia ou uma mistura dos dois. Há uma série de glândulas que nem mesmo existem fora desses grupos que vivem em cupinzeiros e a função claramente está ligada a um mecanismo de integração na colônia, mas as especificidades ainda estão para ser desvendadas em futuros estudos”, explica Bruno, pesquisador do Laboratório de Coleoptera (LaC). De acordo com os cientistas, provavelmente, esse “disfarce” evoluiu para enganar os cupins e evitar predadores. Isso porque ambos são insetos, então dividem características comuns aos insetos, mas são muito distintos, com linhagens e características únicas. Bruno acredita que a evolução desses escaravelhos começou gradualmente, com uma linhagem de besouros que começou a se aproximar dos ninhos de cupins, aumentando o grau de relação e permanência no cupinzeiro. “Inicialmente, essa aproximação deve ter se dado pela química, em que certos besouros começaram a quebrar os padrões de identificação das colônias. Então, espera-se uma mudança de comportamento alimentar, da predação, até algo mais passivo e menos custoso como a participação no processo de trofalaxia. Isso foi um grande passo na evolução dos termitófilos”, afirma ele. Espécie brasileira (Thyreoxenus alakazam) que também apresenta mimetismo visual de cupins César Favacho O novo besouro é a segunda espécie do gênero Austrospirachtha. Antes da descoberta, havia apenas uma espécie com dois exemplares. Essa segunda espécie, coletada tantas décadas depois, também possui apenas dois exemplares. O nome Austrospirachtha carrijoi foi uma homenagem a Tiago Carrijo, feita por Bruno Zilberman e Carlos Moreno, coautores do artigo. “Posso dizer com tranquilidade que o A. carrijoi foi o besouro mais impressionante que tivemos o prazer de observar através de uma lupa. Vale salientar que há centenas de espécies de besouros que já foram registradas com cupins pelo mundo, então o hábito não é necessariamente novo, mesmo que a maioria não tenha a morfologia tão extravagante como a do Austrospirachtha”, afirma Bruno. Os pesquisadores ressaltam a raridade do inseto, o que dificulta estudos sobre ele. "Desconhecemos como esse animal se reproduz, como e onde vivem, outros estágios de seu desenvolvimento. São muitos mistérios. O melhor, no entanto, é sabermos que esses bichos existem e estão lá, vivos, com a possibilidade de serem estudados e de ajudarem em descobertas futuras", conclui. *Texto sob supervisão de Giovanna Adelle VÍDEOS: Destaques Terra da Gente , Veja mais conteúdos sobre a natureza no Terra da Gente

FONTE: https://g1.globo.com/sp/campinas-regiao/terra-da-gente/noticia/2023/12/21/descoberto-por-pesquisador-brasileiro-conheca-besouro-que-se-disfarca-de-cupim.ghtml


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